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Mostrando postagens de junho, 2020

O ENTERRO DE BRASÍLIO ITIBERÊ DA CUNHA O esquife de Brasilio Itiberê da Cunha é recebido na Estação Ferroviária de Curitiba, em 1913, após seu falecimento em Berlim. Até hoje é considerado um dos mais emblemáticos enterros que Curitiba já viu. Brasílio Itiberê nasceu na cidade litorânea de Paranaguá, sendo filho de João Manuel da Cunha e de Maria Lourenço Munhoz. Fez os estudos primários em sua terra natal e sua iniciação musical foi ao piano, aprendendo na casa dos seus pais. Já pianista renomado na juventude transfere-se para a capital paulista para cursar a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, efetuando, nessa cidade, vários concertos. Após obter o diploma de Bacharel em Direito ingressa na carreira diplomática atuando no corpo diplomático em vários países, como: Itália, Peru, Bélgica, Paraguai e na Alemanha. Sem deixar a música de lado, Brasílio teve relações de amizade com alguns dos maiores pianistas de seu tempo, como Anton Rubinstein, Sgambatti e Liszt. Considerado um dos precursores do nacionalismo, foi um dos primeiros a inspirar-se em motivos populares e a imprimir à sua obra características nitidamente brasileiras. Compôs música de câmara e coral, além de peças para piano. Sua rapsódia "A Sertaneja"[2] o popularizou, especialmente pela canção tradicional Balaio, meu bem, Balaio", tema musical folclórico recolhido por ele na cidade de Paranaguá. A sua composição mais conhecida é, sem dúvida, "A Sertaneja" de 1869.[3] Foi nomeado embaixador em Portugal, porém, morreu antes de assumir a função. Faleceu na capital alemã no dia 11 de agosto de 1913, numa segunda-feira, aos 67 anos de idade. Uma das muitas homenagens ao autor de "A Sertaneja" está na capital paranaense que denominou uma das suas vias de Rua Brasílio Itiberê. (Fonte: Wikipedia) Paulo Grani.

ZÉ DAS DORNAS E O PASSEIO PÚBLICO " [...] Em 25 de janeiro de 1888, o jornal Dezenove de Dezembro divulgou que estava prevista a realização de regatas no Passeio Público, considerado o rendez-vous da melhor sociedade. Contudo, nesse período, é possível perceber que a falta de verbas, persistia. A quantia de cinco contos de réis, aguardada pelo diretor do Passeio, não lhe foi repassada, gerando uma crise que culminaria dois anos mais tarde, com a saída de Fontana do cargo. A dificuldade financeira refletiu-se na forma de utilização do espaço. Nem as bandas compareciam mais ao logradouro. Um jornalista, com pseudônimo Zé das Dornas satirizou a situação: 'Na forma de costume, fui domingo ao Passeio Público. Como estava aquilo belo! As murmuras águas eram cristalinas, a folhagem verde e balouçada suavemente pela brisa que a beijava amorosamente, os pássaros pipilavam alegres na ramagem do arvoredo, entoando hinos de agradecimento ao digno ex-comandante das armas, que acedera amável e bom ao pedido do signatário destas linhas. Sim. lá havia música, música feita pela banda do 8o regimento, que trazia a todos prezos pelas harmonias das Ondas do Danúbio, valsa cheia de massadas e nove horas. Mas também não faço mais pedidos desse gênero.... Além de perseguido por inúmeras cartas e cartões de agradecimento em casa. na rua. em toda parte, quando penetrei no Passeio quase fiquei doudo: - Obrigado. Zé das Dornas - Afinal temos música. Um dava-me um abraço, outro ...' O pedido de Zé das Dornas não foi em vão. Em junho de 1890, a imprensa anunciava que haveria música no Passeio Público, tocada pelo 8º Regimento de Cavalaria e pelo 17° de Infantaria. Logo após, no entanto, as apresentações musicais praticamente acabaram, representando o início de um período de decadência do Passeio. [...] " (Extraído de: acervodigital.ufpr.br) Paulo Grani

ANTONIO MATTOS AZEREDO, UM GRANDE EMPREENDEDOR " Antonio Mattos Azeredo foi um empresário proprietário de muitos cinemas de Curitiba, desde o cinema mudo, e boa parte do sonoro, em várias salas de exibição da cidade. Vamos encontrá-lo no ano de 1924 possuindo, por arrendamento, o Palácio Theatro e o Mignon Theatre e, mais tarde, o Cine Popular. Consta no livro Diário da Cia. Cine Theatral Paraná, documento registrado na Junta Co­­­­mer­­­­cial do Paraná em 6 de outubro de 1924, contendo anotações da dita companhia por mais de dez anos, até 30/11/1934. Seus apontamentos nos in­­­­­dicam que eram sócios da mesma, os senhores: Annibal Requião, Joaquim Sampaio, Francisco Fido Fontana, Ângelo Casagrande e Antonio Mattos Azeredo, sendo que este último detinha 55% das ações. Consta no referido livro, que o Palácio Theatro pertencia a João Moreira Garcez, de quem Mattos Azeredo arrendou por um conto e 600 mil réis por mês. Era um barracão de madeira e que o próprio Azeredo foi-lhe anexando melhorias du­­­­­rante os anos que o explorou. Quan­­­do foi construído o Edifício Garcez, no início de 1930, o am­­­­biente do cinema já era todo de al­­­­­­­­ve­­­naria, o público chegava até ele transitando por extenso corredor no andar térreo do edifício, com entrada pela Avenida Luiz Xavier. O Cine Mignon, que ficava na Rua XV de Novembro após a es­­­­­quina da Rua Marechal Floriano, pertencia a Joaquim Taborda Ri­­­­bas, tendo Mattos Azeredo sublocado parte do imóvel. Alem destes três cinemas, a Cine Theatral Paraná mantinha exibições em três salões da sociedade alemã de Curitiba, no Teuto Brasileiro, no Andewerger e no Theatro Hauer, pagando um aluguel mensal de cem mil réis para cada um. Antonio Mattos Azeredo chegou a explorar o Cine Glória, na Avenida Luiz Xavier, e o Cine Imperial, na Rua XV. Azeredo teve ainda sob a sua direção o Cine Avenida, que era propriedade de Feres Merhy. Isto aconteceu com a saída do primeiro arrendatário, José Muzillo. A vida de Mattos Azeredo no meio cinematográfico de Curitiba foi cercada de altos e baixos em termos do controle de suas finanças. No auge da fortuna construiu luxuosa mansão na Alameda D. Pedro II, no Batel. Ao morrer já não era mais o empresário abastado. Sua morada foi destinada à sede do Auto­­móvel Clube, sendo, posteriormente, ali instalado o Colégio Sion, que ocupa a propriedade até hoje." (Texto adaptado de gazetadopovo.com.br / Fotos: Acervo Gazeta do Povo) Paulo Grani.

POR QUEM OS SINOS DOBRAM ? " Essa era a pergunta que faziam os nossos antepassados ao ouvir o badalar dos sinos da igreja Matriz. Até pouco tempo atrás, o repicar dos sinos era uma forma de comunicação e anunciava, conforme o toque, os acontecimentos do momento. Batidos em ritmo acelerado, os sinos da Matriz cantavam de alegria, intercalando sons graves e agudos que se harmonizavam perfeitamente, convidando os fiéis para as missas, batizados, casamentos ou procissões. Esses mesmos sinos pareciam chorar, tangidos em lentas badaladas nas cerimônias fúnebres. Eles silenciavam apenas nos três últimos dias da Semana Santa, quando eram eram substituídos pelas famosas matracas. Nos 362 dias restantes, aqueles sinos marcavam não só o que acontecia na igreja, como também iam, aos poucos, marcando em nosso interior aquele som de alegria ou lamento, lembramos ainda hoje com saudades. Manejar um sino é uma atividade arriscada e cansativa. Mantê-lo exige trabalho, com uma manutenção especializada e geralmente cara. Por isso, quem pode ouvir um sino no lugar onde vive, deve valorizar e apreciar essa oportunidade. Os sinos podem não ser uma necessidade atualmente, mas dão charme, personalidade e pompa às circunstâncias da vida. Na minha infância, muitas vezes disputei com os meninos o privilégio de puxar as pesadas e grossas cordas do sino da matriz nas noites de novena. Era uma verdadeira festa quando as portas do coro se abriam. Havia sempre alguém responsável por essa importante tarefa. Nós ficávamos em volta do sineiro esperando a vez para mostrar que tínhamos força suficiente para garantir o ritmo das batidas. Não era fácil, mas era sempre divertido. [...] " * Os repiques foram criados pelos sineiros durante o "tempo colonial" e transmitidos oralmente. Os toques podem ser de finalidade religiosa, social ou de defesa civil. Os toques mais conhecidos: Avisos de missas; novenas; Natal; passagem de ano; chamadas de fiéis; fúnebres; agonia; incêndio; natal; passagem de ano; quaresma; finados; semana santa; toque da ressurreição; parto; angelus; almas; ave Maria; relembrando a Morte do Senhor Jesus; festa dias de Santos; outros. ( * Texto de Maria Helena Mendes Nizio, membra do IHGPguá) Paulo Grani

Nesta foto da década de 1950, o antigo bebedouro que havia na Av. Sete de Setembro esquina com a Rua Tibagi, hoje Praça Baden Powel. Ele era de ferro fundido em forma de cálice, semelhante ao do Largo da Ordem. No momento da foto, ele já havia sido encapsulado com paralelepípedos por alguma justificativa esdrúxula que não levou em consideração seu valor artístico. Esse bebedouro atendia aos muares dos carroceiros que ali faziam ponto de fretes até início da década de 1970. Com a chegada da modernidade, veículos automotores passaram a fazer fretes, em substituição aos veículos de tração animal, tornando o bebedouro sem utilidade, o que ocasionou sua remoção. Paulo Grani

Rua Barão do Rio Branco recebendo asfalto no início do século passado. Observa-se a fila de carroças, muito comuns na época, ao lado da praça Eufrásio Correa.

HISTORIANDO A PRAÇA CARLOS GOMES " Lá pelos idos de 1870, o logradouro ficava além dos limites urbanos e era ponto de passagem para os viajantes que adentravam a cidade, pelo sul. Conta-se que havia uma cruz de madeira – a Cruz das Almas – em um ponto da praça, fazendo com que a região fosse conhecida como 'Campo da Cruz das Almas'. A primeira ocupação do local é datada da década de 1870, quando teriam fixado residência no local o engenheiro americano Maurício Lee Swain e sua esposa Sophia. Em 1884 – após a desapropriação do imóvel – ali seria demarcado a então Praça Sete de Setembro, mais tarde Praça da Proclamação em referência a República; e em 1896 ganharia a denominação atual como forma de homenagear o compositor Carlos Gomes. Intervenções de fato no local começariam em 1903 – durante a gestão municipal de Luiz Xavier. A ideia era realizar estudos e levantamentos com o intuito de embelezar o logradouro. Os anos posteriores foram marcados pela formação de um comércio diversificado na região e também o processo de ajardinamento. A Praça Carlos Gomes abrigou o Quartel General do Quinto Distrito e tempos depois, na mesma construção, a Escola de Aprendizes e Artífices (atual Universidade Tecnológica Federal do Paraná). O embelezamento do local teve continuidade com o prefeito Cândido de Abreu. As melhorias – que incluíram lago (com uma queda d’ água) e um abrigo para cisnes – foram entregues acompanhadas de um grande público. Obras gerais (limpeza, conservação, e arborização) também receberam a devida atenção. Em 1925, o local ganhou uma escultura em bronze de Carlos Gomes realizada por João Turin; fato que representou uma conquista do Grêmio Musical Carlos Gomes – grupo de destaque para o progresso musical da capital paranaense. No decorrer dos anos, a Praça Carlos Gomes ganhou destaque com a urbanização; revestimento em petit-pavê; além de se tornar atrativo para comerciantes e moradores. As construções eram de variados estilos e funcionalidades. Um dos exemplos é o Pavilhão Carlos Gomes – que teve a inauguração em 1942 com a presença dos Irmãos Queirolo – e se tornou um espaço para espetáculos populares e frequentados por milhares de curitibanos." (Extraído de Curitiba Space) Paulo Grani

UMA AVENIDA CHAMADA MANOEL RIBAS Apreciando estas antigas fotos da avenida Manoel Ribas vem à mente saber quem foi o personagem que emprestou seu nome à ela e, ainda, o que motivou tal nomeação. Bem provável, a grande maioria saiba que ele governou o Paraná por bom tempo, porém, há sempre algo mais: Natural de Ponta Grossa, Manoel Ribas (1873-1946) teve como destino aos 24 anos a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul para organizar a Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea. Sua notável administração possibilitou que ele se tornasse prefeito da cidade em 1927. Após a Revolução de 1930 e a renúncia do General Mário Tourinho, interventor do Paraná, o presidente Getúlio Vargas requisitou a vinda de Manoel Ribas para o Estado do Paraná com o intuito de conciliar os conflitos políticos existentes. Manoel Ribas assumiu o Paraná no início de 1932 e permaneceu à frente do governo por um período de treze anos. Neste tempo, angariou cargo de interventor entre 1932 e 34, 1937 e 42, e governador de 1935 a 37. Durante a gestão, o político se notabilizou por modos simples, generosos, mas ao mesmo tempo severos. Mesmo diante dificuldades financeiras que o Estado vivia, realizou grandes feitos assistencialistas e importantes obras visando o desenvolvimento da região, como por exemplo, a Estrada do Cerne e o início da construção da Estrada de Curitiba a União da Vitória e de Ponta Grossa a Apucarana. Manoel Ribas também fomentou a agricultura, pecuária e a educação, principalmente com a construção de escolas, como o Colégio Estadual do Paraná. O fim do governo do político se deu após a deposição de Getúlio Vargas, em 1945. Em outras áreas, Manoel Ribas foi um dos responsáveis por dar início à carreira artística de Poty Lazzarotto. Ao frequentar o Vagão do Armistício, histórica residência dos pais de Poty que recebia diversas personalidades, o político se encantou pela atmosfera e pelo talento do jovem artista ao ponto de conceder bolsas de estudos para estudar no Rio de Janeiro. Manoel Ribas faleceu em Curitiba no dia 28/01/1946. A homenagem ao político é observada através de uma das mais tradicionais ruas da cidade. A Avenida Manoel Ribas possui cerca de 5,0 km de extensão e liga o centro da cidade ao bairro de Santa Felicidade. (Extraído de Curitiba Space) Paulo Grani

A Lenda da Águia de Duas Cabeças (Curitiba-PR) Há cem anos atrás , na Praça Zacarias , existia um lugar chamado Largo da Ponte onde funcionava um quartel da polícia . Nele , havia um soldado chamado José que tinha fama de ser mago e de pertencer a uma seita maçônica . Este militar tinha tatuada no seu ombro esquerdo : uma águia de duas cabeças , que segundo algumas lendas é um símbolo da Maçonaria . Numa sexta – feira de noite de Lua cheia , dentro daquele quartel , um outro militar descobriu que José estava saindo com a sua namorada . Então os dois discutiram e o rapaz traído decepou a cabeça do rival . Depois daquele crime , muitas pessoas falaram que viram um fantasma de um soldado sem cabeça . Reza a lenda que alguns anos depois , este quartel foi abandonado e alguns empresários maçônicos compraram o local , reformaram o imóvel e lá fundaram a sede da Loja Maçônica Fraternidade Paranaense . Porém , com um detalhe interessante : eles colocaram uma águia com duas cabeças no parapeito central do edifício. Hoje este prédio , tem o nome de Edifício Acácia e não pertence mais à Maçonaria . Mesmo assim , alguns moradores e trabalhadores do local afirmaram que viram o fantasma de um soldado sem cabeça . Um desses casos é o de Lurdes e Manoel , um casal oriundo de São Paulo , que mudou – se para Curitiba junto com suas duas filhas : Patrícia e Daniele . Assim eles vieram morar no Edifício Acácia , localizado na Praça Zacarias . Do quarto de Daniele , de quatro anos de idade , dava para ver uma estátua de águia com duas cabeças , existente num parapeito do prédio . Uma certa noite , Lurdes notou que Daniele estava falando com alguém no seu quarto . Quando esta mulher acendeu a luz , escutou batidas de asas de pássaros e perguntou : - Daniele , com quem você estava falando ? Então a menina respondeu : - Com a águia de duas cabeças . Lurdes ficou assustada e fechou a janela . Alguns dias depois Patrícia , de dez anos , estava dormindo . Quando alega ter visto um homem sem cabeça que disse: - Amiga , vamos dar um passeio ? Desta maneira , a criança respondeu : - Vamos ! O espírito levou a garota até a um porão que ficava no subterrâneo do prédio . Lá , a garota viu que existiam livros de magia , objetos de rituais e um cheiro de incenso muito forte . Como um raio , almas saíram das paredes e começaram a sufocar a menina , que gritou : - Socorro ! - Socorro ! Deste jeito , Patrícia abriu os olhos , viu que seus pais estavam ao redor do seu leito e notou que tudo aquilo era um sonho . Mesmo assim ela resolveu contar sobre o pesadelo para a sua família . O casal ao saber dos fatos , resolveu mudar – se com suas filhas para outra residência . Fonte: curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot

A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO EM CURITIBA Em 14 de maio de 1888, hum dia após a assinatura da Lei Áurea, a "Câmara Municipal da Capital do Paraná", apressadamente envia correspondência ao Presidente da Província buscando instruções para dar liberdade aos escravos que haviam na Capital. TRANSCRIÇÃO DA 1ª PÁGINA " 14 de maio de 1888. Ilsm Escm Snr Tenho a honra de accinar o officio de V.Exª. desta data em que se dignon communicar à Camara que desde hontem foi sanccionada a lei extinguindo a escravidão no Brasil e ordenando que providencie para que seja dita lei executada desde já. Não conhecendo a íntegra da lei encontro difficuldade de satisfazer as ordens de V. Exª., por isso peço que se digne V.Exª. dar-me da mesma conhecimento para poder esta Comarca pola em execução. Aproveito a oportunidade para rogar à V.Exª. que se digne dar-me instrucções à respeito por isso que nutro duvidas acerca da competência da Comarca em dar execução às leis emanadas dos poderes gerais.". TRANSCRIÇÃO DA 2ª PÁGINA " Deus guarde à V.Exª. Ilsm Excm Snr Dr José Cesário de Miranda Ribeiro M. Digsm Presidente da Província Vice Presidente da Câmara Antonio Ricardo Nascimento (Fonte: Arquivo Público do Paraná) Paulo Grani.

SEU TALÃO VALE UM MILHÃO, SEM GUERRA POR FAVOR Instituída pelo governo de Juscelino Kubitscheck, a campanha "Seu Talão Vale Um Milhão" virou uma febre nacional a partir do final dos anos 1950 e chegou a inspirar uma marchinha de Carnaval no ano seguinte. O objetivo do governo de JK era incentivar o consumidor a pedir a nota fiscal sempre que fizesse uma compra. Cada três mil cruzeiros em notas poderiam ser trocados por um cupom que daria ao cidadão o direito de participar do sorteio de um milhão de cruzeiros. O jornal Correio de 12/12/1959, publicava: "Pago em Curitiba 1° Prêmio de "Seu Talão Vale Um Milhão" - O sr. Hamilton Constantini recebeu das mãos do governador do Estado, no Palácio Iguaçu, o cheque correspondente a 1 milhão e oitenta mil cruzeiro, correspondente ao prêmio máximo de 1 milhão de cruzeiros, mais 80 aproximações que lhe couberam no sorteio do "Seu Talão Vale Um Milhão". Inicialmente, a campanha foi organizada a nível nacional tendo um rigoroso controle dos sorteios que eram feitos ao vivo diretamente na Bolsa de Valores. Depois foi descentralizada para os estados sob comando das secretarias de finanças de cada Estado. Quando o governador do estado, Moysés Lupion (1908-1991), resolveu promover a campanha no Paraná, não imaginava até que ponto certo consumidor estava disposto a lutar pelos seus direitos em um estabelecimento conhecido como Bazar Centenário. Ali, após lhe terem negado a nota fiscal pela compra de um pente, o subtenente da Polícia Militar Antônio Haroldo Tavares, indignado, insultou com palavrões de baixo calão o comerciante Ahmad Najar que o havia atendido, dando início a uma séria discussão que culminou com a histórica "Guerra do Pente" de Curitiba. A briga foi aumentando e Curitiba parou. Inclusive por conta de quem usava peruca. A ordem só foi restabelecida, dois dias (e noites) depois, com a intervenção do Exército já que a Polícia Civil e a PM não conseguiram debelar o tumulto. Paulo Grani

A GUERRA DO PENTE EM CURITIBA Quem vê as quadras historicamente repletas de comércio de rua diante da Praça Tiradentes, não imagina que um dia essa região foi palco de um episódio da história de Curitiba que ficou conhecido como “A Guerra do Pente", ocorrida no dia 08/12/1959. "A chamada “Guerra do Pente” foi um acontecimento excepcional e que causa ainda interrogações. Por que logo em Curitiba, se deram esses acontecimentos? Cidade de perfil europeu, com grande concentração de grupos étnicos alemães e eslavos, que se miscigenaram e que continuam neste processo de forma pacífica com os descendentes das outras etnias que aqui arribaram: claro os portugueses, os italianos, espanhóis, suíços, os árabes e os nossos autóctones. Interações étnicas que promoveram a modelação de seus habitantes, conhecidos como gente pacata e ordeira, praticantes religiosos e de um refinamento cultural acima da média brasileira. Proclamados como cidadãos de costumes sóbrios e um tanto tímidos em suas manifestações sociais, os curitibanos naqueles anos, ostentavam com orgulho o título da sua cidade: “Cidade Sorriso”, que se associava à sua pretensa cordialidade ou a “Cidade Universitária”, apontando para o seu bom nível cultural. O governador Moysés Lupion, interessado em aumentar a arrecadação de impostos implantou uma campanha intitulada “Seu talão vale um milhão”. Consistia em incentivar o consumidor a pedir a nota fiscal de suas compras no comércio e, depois, trocá-la por bilhetes nos quais o cidadão concorreria a um milhão de cruzeiros (soma considerável então) em sorteio alardeado com insistência nos canais de comunicação. O povo estava motivado pela campanha, e ao final da tarde do dia 8 de dezembro de 1959, na praça Tiradentes, Antônio Haroldo Tavares, subtenente da Polícia Militar, compra um pente e pede uma nota fiscal. O comerciante, o sírio-libanês Ahmad Najar, se nega a emitir o documento em vista da exígua quantia, apesar de saber que a sua obrigação era emitir a nota, porém, diante da insistência, mandou sua funcionária atender o seu pedido. O freguês,i tomado de indignação passou a destratá-lo com palavras de baixo calão. Os ânimos se exaltaram e acabaram por entrar em violenta luta corporal, vindo o freguês a ter uma perna fraturada. A partir daí, o caos tomou conta da cidade. Era final de expediente e os pontos de ônibus, existentes na praça, estavam repletos de transeuntes que passavam e, fregueses de um bar ao lado, indignados com a cena e mobilizados pelos gritos do cidadão ferido, começaram a apedrejar o bazar. E mesmo com o rápido abaixar das portas pelo comerciante, a turba que imediatamente se formou arrancou-as e invadiu o local, fazendo com que a sua mulher e os filhos pequenos fugissem para o fundo da loja, subissem para o primeiro andar e pulassem através da varanda, para as casas vizinhas. Lá embaixo o rastilho de violência pegou fogo e o quebra-quebra começou. Depredando as casas vizinhas, a massa que se robustecia cada vez mais repartiu-se em duas ou três frentes e continuou a depredar todos os estabelecimentos comerciais, que eram em sua maioria de árabes. Estendeu-se a horda pelas praças e ruas adjacentes, depredavam então tudo o que encontravam pela frente: casas comerciais, não só de árabes, assim como prédios públicos. Com a vinda dos homens da segurança pública, a região transformou-se em batalha campal, tiros, violências, correrias, vaias e bagunça geral. Agentes da polícia civil, batalhões da polícia militar e do corpo de bombeiros se debateram com os mais afoitos, realizando prisões, dando bastonadas e esguichando jatos de água na turba que parecia incontrolável. Alguns elementos chegaram a cortar as mangueiras dos bombeiros e a entrar em luta com agentes da segurança. Todo o miolo da cidade foi percorrido pela procissão de indivíduos e pelas viaturas da ordem pública. Os ânimos vieram a se acalmar somente depois da uma hora da madrugada, quando uma garoa desceu na cidade. No dia seguinte a cidade acordou em calma, mas logo a atmosfera do centro da cidade começou a esquentar. O pessoal vindo dos bairros pela manhã, começaram a se aglomerar novamente no local onde iniciaram os distúrbios do dia anterior. A praça Tiradentes foi tomada aos poucos por indivíduos que ficaram em atitude de espera. Em outros locais naquela manhã, a polícia em ronda pela cidade dissolvia pequenos grupos de provocadores que se formavam com grita e apupos, fugiam e logo se juntavam a outros elementos. Em torno das 9 horas, ouviu-se um grito de “quebra” na praça, e repentinamente a turba explodiu reiniciando as depredações. Cenas bárbaras aconteceram, como o libanês que em frente de sua loja atirou ao chão na tentativa de fazer recuar a horda. O efeito foi o contrário, e este acabou por ser arrastado pela turba por mais de uma quadra a socos e pontapés. Foi internado em estado grave no hospital. Todo o centro da cidade foi tomado pela confusão: pedras, correrias, apupos e busca-pés espocavam na cidade. Como a situação escapava ao controle dos policiais, o governador do estado foi avisado e este então pediu ao comandante do exército da região o apoio de suas tropas. Com tanques, metralhadoras e fuzis calados, os militares ocuparam o centro da cidade e os pontos estratégicos na sua periferia. Com a demonstração de força, os ânimos foram apaziguados e já pela tarde a ordem estava restabelecida, mas sob vigilância cerrada até o dia seguinte O quebra-quebra em seu início foi transmitido por uma estação de rádio de grande audiência e que era ouvida pelas classes populares. O repórter recebeu apelos do delegado para interromper com a transmissão e impedir maior divulgação, pois os distúrbios alastravam-se temerariamente. Em pontos diferentes da cidade pipocavam grupos espontâneos que apedrejaram mercearias afastadas do miolo da cidade. Tanto a polícia como comerciantes árabes e os insurretos fizeram uso diversas vezes de armas de fogo. Uma zeladora que limpava no segunda andar os vidros de um prédio, foi atingida no braço por disparo (pelas leituras de jornais, suponho de um comerciante árabe). Foram mobilizados todos os recursos de segurança : tropas de cavalaria da PME, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Civil e finalmente as tropas do Exército. Houve várias confrontações, chegando a se reunir uma multidão em frente da chefatura de polícia, na procura de liberar os detidos. Estimou-se em mais de dois mil o número de participantes. Um total de 181 casas comerciais foram danificadas. O Exército desconfiado que por trás de tudo estivesse a mão do Partido Comunista, e temendo alguma ação mais organizada, tomou a iniciativa de colocar destacamentos nas entradas da cidade para controlar e impedir entrada de caminhões ao centro da cidade. Entretanto a versão do delegado de polícia em seu relatório ao comandante da região militar, observa somente a participação de marginais e desocupados. E o final dos acontecimentos terminou como o estampado nos jornais: “Tanques de guerra e baionetas silenciaram o motim popular.” (O Correio do Paraná, 10/12/59". (Extraído de um texto de Jamil Zugueib Neto - No Icarabe.org). Paulo Grani