Racha na Galeria Tijucas

RACHA NA GALERIA TIJUCAS

"Na década de sessenta ainda não existia em Curitiba a Rua das Flores e a quadra entre a Praça Osório e a Travessa Oliveira Belo era um trecho de rua comum, aberto ao tráfego. Era o ponto preferido dos jovens da época.

A porta do antigo Cine Palácio e a loja do Café Alvorada eram os redutos principais dos jovens considerados avançados, todos na mesma moda da época: calças boca de sino ou jeans que só eles usavam, camisas esporte de gola alta e mangas largas, botinhas de salto garrapeta ou mocassim branco, cintos largos, anéis Brucutu (feitos com o esguichador de Fuque), cabelos brilhantina.

Quando saiam dos colégios ficavam o dia todo combinando as "festinhas à americana" do fim de semana, desfilando uma nova camisa, comentando os novos rocks do Elvis, Paul Anka, Little Richard, e muitos outros ídolos da época.

Á noite, durante a semana, geralmente não havia nada para fazer, pois a vida noturna curitiba-na era para adultos, limitada às duas famosas boates localizadas no centro: Marrocos na Marechal, quase esquina com a Praça Zacarias, e a 'Star Dust' na Praça Osório.

Porém, nas sextas e nos sábados, Curitiba tremia com as diversas turmas que se formavam para as festinhas, onde cada um tinha que levar uma garrafa de bebida ou refrigerante e a dona-da-casa providenciava a comida.

Mais tarde, lá pelas cinco da manhã, vinham os rachas nas galerias Tijuca e Asa, com a polícia atrás.

Lembro de um certo sábado, quatro e pouco da manhã, quando eu e um amigo nos preparávamos para atravessar a Galeria Tijucas num DKW envenenado, o primeiro em Curitiba com "tala larga", porta-malas automático, cabeçote do motor rebaixado, cinto de couro amarrando o capô do motor e pneus especiais argentinos.

A galeria era escura. Parado na entrada da mesma, as luzes do carro não conseguiam chegar até a metade do percurso, permitindo uma fraca visibilidade do seu interior.

Arrancamos com tudo. Quando estávamos mais ou menos no meio, vimos umas seis pessoas, agarradas nas grades das lojas, gritando e esbravejando. Na saída, ja tinha um Fusqueta da polícia para perseguir os infratores. Era uma emoção para a juventude da época."

(Texto de Paulo Hilário Bonametti, extraído de Histórias de Curitiba / Fotos da web)

Paulo Grani

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