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Alto da Glória, Água Verde, Umbará, Xaxim, Bigorrilho, Prado Velho... Desde 1975, quando foi feita a última divisão de bairros da cidade, Curitiba é formada por 75 bairros (que, por sua vez, se dividem em centnenas de vilas, jardins e moradias). Mas afinal, quem deu nome aos bairros de Curitiba? E quais os critérios que avalizaram as escolhas?
Alguns nomes, é verdade, são autoexplicativos, como Alto da Rua XV, Bairro Alto (localizado em uma das partes mais elevadas da cidade) e Centro Cívico (“Centro cidadão”, na concepção de Alfred Agache, autor do Plano Urbano de Curitiba nos anos 1940).
Outros homenageiam figuras ilustres que fazem parte da história da cidade. O Abranches, por exemplo, homenageia o ex-presidente da Província do Paraná que, em 1873, deu consentimento para que imigrantes poloneses ocupassem a região. Já os bairros Hauer e Fanny fazem referência ao imigrante alemão Roberto Hauer e sua esposa, que eram proprietários de uma área de 500 alqueires, a qual ia do Rio Belém quase ao novo Mundo. Com o falecimento de Roberto, os herdeiros repartiram a terra e a lotearam. Um dos terrenos recebeu o nome de Bairro Hauer e outro, de Vila Fanny.
E temos ainda os bairros cujos nomes são ligados à religião, à fé. Ao todo, são três bairros em referência à santas (Cândida, Felicidade e Quitéria) e seis em referência à santos (Inácio, Braz, Francisco, João, Lourenço e Miguel).
Essa breve exposição, contudo, não explica o nome dos bairros citados na abertura desta reportagem. E algumas histórias valem a pena de serem contadas.
O Alto da Glória, por exemplo, muitos acreditam ter alguma relação com o Coritiba e o seu estádio, o Couto Pereira. Ledo engano. O bairro, fundado pelo Barão de Holleben, por volta de 1856, ganhou esse nome graças à Capelinha de Nossa Senhora da Glória, construída pelos primeiros moradores do bairro, pertencentes à família Leão. Anos depois, os padres redentoristas ganharam dos Leão esse santuário e substituíram a imagem da padroeira da região pela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Outra historia sobre o bairro, relatada pelo historia Francisco Negrão, é que tal denominação teria sido inspirada na propriedade do Dr. José Maria Pinheiro Lima, conhecida como “Chácara Nhá Laura” ou “Chácara da Glória”, localizada nas proximidades do atual Passeio Público e do Colégio Estadual do Paraná.
Outra curiosa polêmica envolve o Bigorrilho. Há quem diga que o nome seria uma homenagem a uma cigana benzedeira que morava na região, enquanto outros defendem que a homenageada, na verdade, seria referente a uma prostitura de nome Bigorrilha, muito valente e proprietária de um bordel que levava seu nome. A linguagem cotidiana dos moradores teria “masculinizado” o termo, surgindo daí o nome Bigorrilho. Já Evaristo Biscaia, em seu livro “Coisas da Cidade”, defende que antigamente o bairro era conhecido “Bairro dos Italianos”, tornando-se depois Bigorrilho em virtude de morar ali um rutena (ucraniana) de nome Bigorela.
‘Petit Batel’ reacende polêmica
Bigorrilho ou Champagnat? Mossunguê ou Ecoville? Há alguns anos, discussões sobre nomes mais ‘comerciais’ para os bairros ganharam força em Curitiba, especialmente após empresários começarem a criar denominações próprias para polos gastronômicos e de serviços. Alguns exemplos famosos são o Cabral Soho, nas proximidades da Avenida Paraná; o Arte Cívico, nas próximidades do MON; e o Jardins, na região da Rua Itupava próxima ao Jardim Ambiental.
E recentemente, o assunto voltou à pauta após mais uma iniciativa de empresários da região do Batel que, inspirados no bairro londrino de Notting Hill, estão propondo a criação de um nanobairro dentro do Batel, chamado de Petit Batel. A ideia, que já contaria com o apoio do prefeito de Curitiba, é transformar o espaço numa área de “conveniência, gastronomia e entretenimento para os curitibanos e turistas”. O novo bairro ficaria entre as ruas Presidente Taunay, Coronel Dulcídio, Dom Pedro II e Gutemberg.
Capão dos Porcos e Morro do Querosene
Você sabe onde fica o Capão dos Porcos ou o Morro do Querosene? Pois estes já foram os nomes daqueles que são hoje dois dos bairros mais populosos de Curitiba: Pinheirinho e Jardim Social.
No caso do bairro Pinheirinho, o nome “Capão dos Porcos” se devia ao fato de a região, no passado, ter sido formada por várias fazendas de gado, resultando numa grande presença de porcos, que passavam todos os dias pela atual via rápida, antigamente rua Olho D’água. A Avenida Winston Churchill, sua principal via de acesso, era conhecida como “Carrerão dos Pretos”.
Já no caso do Jardim Social, o apelido “Morro do Querosene” teria sido cunhado nas primeiras décadas do século XIX. Com a elitização do bairro, eque sempre se caracterizou por ser uma zona estritamente residencial, o nome antigo foi sendo esquecido e hoje a maior parte das pessoas conhece o local como Jardim Social.
Conheça as mais curiosas origens dos nomes dos bairros curitibanos
- Água Verde
As algas que formavam massas verdes e davam uma coloração esverdeada à água doce, levaram os antigos moradores da região a batizar o rio que cortava suas fazendas e chácaras com o nome de “Água Verde”. O rio Água Verde, que nasce e cruza toda a extensão do bairro, até desaguar nas águas do Rio Belém, no Prado Velho, foi a fonte inspiradora para o nome do bairro. Hoje, este rio esta canalizado e corre em boa parte no subterrâneo.
- Bacacheri
As origens do bairro confundem-se com a criação, nessa região, da Colônia Argelina de imigrantes, em 1869. O nome da colônia se deve ao fato de a maioria dos seus integrantes ser composta por franceses originários da Argélia, existindo também alemães, suíços, suecos, ingleses e, posteriormente, italianos. Uma lenda famosa, entretanto, diz que o nome se deve a um francês que vivia na região e tinha uma vaca chamada "Chérie" (querida, em francês). Quando a chamava, o homem gritava: "Baca chérie!", num misto de português com francês, o que teria inspírado o nome do bairro.

- Batel
Existem duas versões para a origem do nome do bairro: a primeira, atendendo à tradição popular, está ligada ao fato de residir, no local, uma família conhecida por Batel. A outra, remonta aos tempos das tradicionais cheganças (festas religiosas), onde, na ocasião, teria naufragado um batel (pequena embarcação) vindo de São José dos Pinhais.
- Boqueirão
O bairro era, inicialmente, uma fazenda de cerca de mil alqueires com terras úmidas e grandes banhados, onde se praticava extração de madeira e criação de gado. É dessa época o nome do bairro, que deve-se ao fato de existir nos campos da redondeza uma grande cova funda que os habitantes chamavam de “boqueirão”.

- Fazendinha
Refere-se a uma trilha, muito utilizada, que unia a estrada de São José à dos Campos Gerais e facilitava a trajetória do gado e das tropas que, naquela época, desciam para o litoral, vindos dos campos gerais. Ao chegarem em Curitiba, as tropas serviam-se do caminho de São José do Arraial para prosseguirem viagem. A trilha citada era então chamada de “Atalho da Fazendinha” ou do “Rodeio”, por fazer a ligação entre o Campo Comprido e o Portão, reduzindo em algumas léguas a viagem.

- Novo Mundo
Depois de morar em Contenda e Tomáz Coelho, o imigrante Alberto Stenzoski - que chegou ao Brasil com 14 anos de idade-, veio se instalar ao sul de Curitiba e abriu um armazém, que chamou “Novo Mundo”. No “Novo Mundo” acampavam os tropeiros que traziam produtos para vender na cidade, principalmente erva-mate, bois e porcos. Do antigo armazém e pousada dos tempos das carroças, pouca lembrança resta. A mais importante é, sem dúvida, o seu nome, que passou a ser o do bairro.
- Portão
Os conflitos entre lavradores e tropeiros pelos campos de criação de gado acabaram determinando caminhos e o surgimento de cercas e portões. A passagem e o comércio de animais procedentes de Curitiba e dos Campos Gerais levou à instalação de um posto de fiscalização na região, que deu origem ao nome do bairro: Portão.

- Prado Velho
A palavra prado significa lugar planol, campina ou planícia. Antigamente, a região era conhecida como Prado Curitibanos, já que era pr ali que ocorriam as corridas de cavalo, no antigo hipódromo da cidade. Em 1955, contudo, fora inaugurado o Hipódromo do Tarumã e as atividades se mudaram para lá. Assim, a região antes denominada “Prado” acabou se transformando no “Prado Velho” já que o “Prado Novo” estava no tarumã.

- Umbará
O nome Umbará surgiu em consequência da constituição argilosa do solo da região que, em tempos de chuva, formava grande quantidade de barro nos caminhos: “um bará”, ou seja, um barro só, segundo a tradição oral do povo.

- Xaxim
Na divisa entre o povoado que vivia na atual Rua Francisco Derosso e a fazenda Boqueirão existia uma porteira cujo batedor era um Xaxim, o que, associado ao fato de as terras serem demarcadas com valas plantadas de Xaxim, determinou o nome que o bairro conserva até hoje.

- Santa Felicidade
Apesar da forte tradição italiana, o nome do bairro homenageia uma portuguesa: Dona Felicidade Borges, antiga proprietária de terras na região e que teria doado parte de suas posses para imigrantes italianos, no século XIX.
- Jardim das Américas
O bairro deve seu nome à intenção dos vereadores municipais de homenagear as três partes do nosso continente: América do Norte, América Central e América do Sul.

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HISTORIANDO AS RUÍNAS DE SÃO FRANCISCO Para compreender a história das Ruínas de São Francisco é preciso voltar no tempo. O ano era o de 1798, quando o bispo de São Paulo, Dom Mateus de Abreu Pereira, em passagem por Curitiba, manifestou preocupação com relação à situação das três igrejas então existentes na cidade, que estavam em mau estado de conservação. Durante sua visita a Curitiba, o bispo verificou a urgência de novos santuários, já que nesse período só existiam três igrejas: a Matriz de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, atual Catedral; a Igreja Nossa Senhora do Terço, hoje conhecida como a Igreja da Ordem; e a Igreja do Rosário. Ao longo da sua estadia na região, o bispo ficou hospedado na fazenda do coronel Manoel Guimarães. No decurso das conversas, o coronel expôs ao bispo o seu desejo de construir uma igreja em nome da sua devoção a São Francisco de Paula. Com a autorização de Dom Mateus Pereira, o coronel solicitou a câmara de Curitiba um terreno para a construção da capela devotada ao santo. Manoel Gonçalves Guimarães foi um rico coronel da região da Lapa. Também mantinha posses e residência na cidade de Curitiba, isso facilitou o projeto de construção da igreja. Para alguns fiéis católicos, a nova igreja seria uma afronta a Nossa Senhora da Luz, para outros, uma questão apenas política. No entanto, sabia-se que não seria erguida uma igreja simples, seria elevado um templo tão grandioso quanto a fortuna do Coronel Manoel Guimarães. Conhecendo-se o temperamento arrojado de Manoel Guimarães, ficava claro que não iria construir simplesmente mais um santuário. Seria, além da realização de um sonho ou do cumprimento, talvez, de uma promessa, a representação concreta de seu poder e influência. Então, criou-se a Confraria de São Francisco de Paula para dar início ao projeto. arrecadaram-se doações para a compra de materiais de construção, além de objetos religiosos. Em 1809, apenas a capela-mor e a sacristia ficaram prontas, mesmo inacabada o bispo Dom Mateus de Abreu Pereira autorizou a benção da igreja para que fossem realizadas suas atividades religiosas. Ainda para a inauguração da capela, foi colocado sobre o altar a imagem de São Francisco de Paula. O Santo só saía da igreja para a procissões dos fieis em tempos de seca. A imagem de São Francisco de Paula foi esculpida em madeira, entretanto sua origem e autor são desconhecidos. O falecimento do Coronel Manoel Guimarães fez com que as obras ficassem paradas, mesmo com a confraria ainda existindo. A reforma da Igreja da Matriz também contribuiu para a paralização da construção, pois o reboco estava se desvencilhando do teto e havia risco de desabamento. Por esse motivo, em 1860, a construção da igreja São Francisco de Paula foi abandonada para que fosse concluída a torre da Igreja da Matriz. Portanto, “As pedras que finalizariam as obras foram utilizadas na conclusão da torre da antiga matriz” (FENIANOS, 1998). Depois de alguns reparos na Igreja Matriz os problemas estruturais persistiram. Com mudança de vila para a cidade, Curitiba precisava de uma igreja a altura da sua nova categoria, então começaram a construção da nova catedral. Concomitante a isso, a igreja da ordem também carecia de reformas. A restauração da Igreja da Ordem e a finalização da catedral impossibilitaram a conclusão da Igreja São Francisco de Paula. Segundo Baptista, mesmo inacabada a igreja foi frequentada durante todo o século 19. Em 1860, houve alteração na fachada da igreja. As paredes ainda de taipas foram substituídas por tijolos. Décadas mais tarde, alguns melhoramentos foram realizados pelo padre Antônio Vicente da Cruz, cuidador da capela. Mesmo com pequenas reformas o templo foi entregue quase em ruínas para Irmandade da Misericórdia, que se tornou responsável pela igreja. No ano de 1885, a Câmara deliberou a retirada da Igreja São Francisco de Paula já em ruínas, mas nada foi feito. Posteriormente, a capela foi confiada aos padres franciscanos Xisto Mawes e Redempto Kullman. Os freis permaneceram no Alto do São Francisco até 1901, depois mudaram-se para a Praça da atualmente Praça Rui Barbosa, nesse local foi fundada a Igreja Bom Jesus dos Perdões. Devido ao estado físico precário da Igreja São Francisco de Paula foi decidido pela sua demolição. Então, em 1914, houve um acordo entre prefeitura e a mitra diocesana para permuta de um terreno situado na esquina das ruas Saldanha Marinho e Desembargador Mota. Nesse local foi construída a nova Igreja São Francisco de Paula. Os paroquianos ainda doaram dois lotes adjacentes a área permutada para a construção da casa paroquial. Para a celebração das missas foi construída uma igreja provisória de madeira. Apesar disso, as atividades religiosas não foram cessadas. Até que em 1936, foi criada a Paróquia São Francisco de Paula, abrangendo os bairros das Mercês e Bigorrilho. Já em 1949, o pároco Boleslau Farlaz deu os primeiros passos para a construção da nova matriz. As obras eram executadas com a ajuda financeira de fiéis, festas e quermesses. (Fotos: internet) Paulo Grani