OS NATAIS ENCANTADOS DAS LOJAS HERMES MACEDO "Você se lembra de uma loja de departamentos no centro de Curitiba, que ficava na Rua Barão do Rio Branco? Dependendo da sua idade, talvez sua primeira bicicleta tenha vindo de lá. Mas é mais provável você lembrar do mágico Natal da Hermes Macedo. Entre os anos 1940 e 1990, a HM se vestia religiosamente para a festa. Tudo era de encher os olhos, para crianças e adultos. Os corredores ganhavam enfeites e uma Gruta Encantada era montada no setor de brinquedos, no subsolo da loja, onde meninos e meninas escolhiam os presentes que gostariam de ganhar. Um presépio mecanizado, que era ícone da HM, completava o clima. A rua virava extensão da festa. “O arco de Natal causava acidentes: motoristas passavam por ali, ficavam encantados com o brilho e acabavam batendo o carro”, conta Sinval Martins, 83 anos, que foi chefe de propaganda da Hermes Macedo por mais de 20 anos, sobre o enfeite que conectava as duas calçadas da Barão do Rio Branco em frente à loja. Um desfile com direito a carros alegóricos e funcionários fantasiados acompanhava a chegada do Papai Noel à loja, passando por ruas importantes do centro. Em certa ocasião, ele chegou de helicóptero com toda pompa e circunstância ao estádio Couto Pereira. “Queríamos que Curitiba tivesse a grande festa do ano durante o Natal. Por isso, decidimos criar um ponto de referência na cidade, algo que as pessoas não deixassem de ver”, explica. “Todo dia 24 de dezembro, por volta das 19 horas, meu pai levava minhas irmãs e eu para passear pela cidade e ver as decorações de Natal de todos esses lugares. E minha mãe aproveitava para colocar os presentes embaixo do pinheirinho. Quando voltávamos, diziam que o Papai Noel havia passado ali”, relembra o curitibano José Amaral (57), acerca de suas lembranças sobre os natais da H.M. A decoração foi ficando cada vez mais complexa, e os bonequinhos de gesso deram lugar a personagens que tinham movimentos próprios. “Nós, que só começávamos a elaborar as ideias em julho, passamos a iniciar os preparativos em janeiro. A Móveis Cimo, as Lojas Prosdócimo, a HM da Barão e a casa de Hermes Macedo formavam o circuito de decoração que as pessoas não podiam deixar de ver no fim de ano”, diz Raul Janz, 68 anos, que trabalhou no departamento de decoração da loja entre 1969 e 1994, projetando e dando forma a toda essa operação natalina. Naquela época, era difícil encontrar enfeites natalinos e poucas casas e comércios se enfeitavam, por isso o alvoroço era tão grande. As decorações de ruas e lojas eram um acontecimento. Grandes e iluminadas, feitas com capricho. Hoje tudo é mais fácil. Mas por que nos sentimos saudosistas? Até mesmo quem não presenciou os Natais da HM parece sentir falta deles. Talvez porque, segundo Amaral, além de criar uma atmosfera lúdica, eles reforçavam as características únicas dos casarões do centro da cidade. As lojas mostravam a arquitetura do lugar e ajudavam a contar a históriada cidade." (Extraído e adaptado de: Haus/Gazeta do Povo) Paulo Grani







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HISTORIANDO AS RUÍNAS DE SÃO FRANCISCO Para compreender a história das Ruínas de São Francisco é preciso voltar no tempo. O ano era o de 1798, quando o bispo de São Paulo, Dom Mateus de Abreu Pereira, em passagem por Curitiba, manifestou preocupação com relação à situação das três igrejas então existentes na cidade, que estavam em mau estado de conservação. Durante sua visita a Curitiba, o bispo verificou a urgência de novos santuários, já que nesse período só existiam três igrejas: a Matriz de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, atual Catedral; a Igreja Nossa Senhora do Terço, hoje conhecida como a Igreja da Ordem; e a Igreja do Rosário. Ao longo da sua estadia na região, o bispo ficou hospedado na fazenda do coronel Manoel Guimarães. No decurso das conversas, o coronel expôs ao bispo o seu desejo de construir uma igreja em nome da sua devoção a São Francisco de Paula. Com a autorização de Dom Mateus Pereira, o coronel solicitou a câmara de Curitiba um terreno para a construção da capela devotada ao santo. Manoel Gonçalves Guimarães foi um rico coronel da região da Lapa. Também mantinha posses e residência na cidade de Curitiba, isso facilitou o projeto de construção da igreja. Para alguns fiéis católicos, a nova igreja seria uma afronta a Nossa Senhora da Luz, para outros, uma questão apenas política. No entanto, sabia-se que não seria erguida uma igreja simples, seria elevado um templo tão grandioso quanto a fortuna do Coronel Manoel Guimarães. Conhecendo-se o temperamento arrojado de Manoel Guimarães, ficava claro que não iria construir simplesmente mais um santuário. Seria, além da realização de um sonho ou do cumprimento, talvez, de uma promessa, a representação concreta de seu poder e influência. Então, criou-se a Confraria de São Francisco de Paula para dar início ao projeto. arrecadaram-se doações para a compra de materiais de construção, além de objetos religiosos. Em 1809, apenas a capela-mor e a sacristia ficaram prontas, mesmo inacabada o bispo Dom Mateus de Abreu Pereira autorizou a benção da igreja para que fossem realizadas suas atividades religiosas. Ainda para a inauguração da capela, foi colocado sobre o altar a imagem de São Francisco de Paula. O Santo só saía da igreja para a procissões dos fieis em tempos de seca. A imagem de São Francisco de Paula foi esculpida em madeira, entretanto sua origem e autor são desconhecidos. O falecimento do Coronel Manoel Guimarães fez com que as obras ficassem paradas, mesmo com a confraria ainda existindo. A reforma da Igreja da Matriz também contribuiu para a paralização da construção, pois o reboco estava se desvencilhando do teto e havia risco de desabamento. Por esse motivo, em 1860, a construção da igreja São Francisco de Paula foi abandonada para que fosse concluída a torre da Igreja da Matriz. Portanto, “As pedras que finalizariam as obras foram utilizadas na conclusão da torre da antiga matriz” (FENIANOS, 1998). Depois de alguns reparos na Igreja Matriz os problemas estruturais persistiram. Com mudança de vila para a cidade, Curitiba precisava de uma igreja a altura da sua nova categoria, então começaram a construção da nova catedral. Concomitante a isso, a igreja da ordem também carecia de reformas. A restauração da Igreja da Ordem e a finalização da catedral impossibilitaram a conclusão da Igreja São Francisco de Paula. Segundo Baptista, mesmo inacabada a igreja foi frequentada durante todo o século 19. Em 1860, houve alteração na fachada da igreja. As paredes ainda de taipas foram substituídas por tijolos. Décadas mais tarde, alguns melhoramentos foram realizados pelo padre Antônio Vicente da Cruz, cuidador da capela. Mesmo com pequenas reformas o templo foi entregue quase em ruínas para Irmandade da Misericórdia, que se tornou responsável pela igreja. No ano de 1885, a Câmara deliberou a retirada da Igreja São Francisco de Paula já em ruínas, mas nada foi feito. Posteriormente, a capela foi confiada aos padres franciscanos Xisto Mawes e Redempto Kullman. Os freis permaneceram no Alto do São Francisco até 1901, depois mudaram-se para a Praça da atualmente Praça Rui Barbosa, nesse local foi fundada a Igreja Bom Jesus dos Perdões. Devido ao estado físico precário da Igreja São Francisco de Paula foi decidido pela sua demolição. Então, em 1914, houve um acordo entre prefeitura e a mitra diocesana para permuta de um terreno situado na esquina das ruas Saldanha Marinho e Desembargador Mota. Nesse local foi construída a nova Igreja São Francisco de Paula. Os paroquianos ainda doaram dois lotes adjacentes a área permutada para a construção da casa paroquial. Para a celebração das missas foi construída uma igreja provisória de madeira. Apesar disso, as atividades religiosas não foram cessadas. Até que em 1936, foi criada a Paróquia São Francisco de Paula, abrangendo os bairros das Mercês e Bigorrilho. Já em 1949, o pároco Boleslau Farlaz deu os primeiros passos para a construção da nova matriz. As obras eram executadas com a ajuda financeira de fiéis, festas e quermesses. (Fotos: internet) Paulo Grani