Hoje acordei com uma curitibanice tão nostalgica... Costumo dizer que “curitibano de verdade” (da minha geração) – ao menos e/ou entre outras coisas - é... . aquele que recorda do tempo em que, por longos períodos, chovia todos os dias, e tanto, que era hábito colocarmos galochas sobre os sapatos, para poder enfrentar o barro... e pendurar nossas meias atrás da geladeira, para que elas pudessem secar... . aquele que se lembra do nosso inverno com frio intenso e prolongado, do nosso céu cinzento, sombrio e carrancudo, a maior parte do ano... aquele que se lembra da alegria da chegada do “veranico de maio”... . aquele que, criança, ficava deslumbrado com o outdoor de prismas giratórios que existia na “Avenida Marechal Deodoro” (atrás do prédio dos “Correios”)... e boquiaberto com o movimento do painel luminoso vertical, então existente na “Praça Zacarias”, veiculando um anúncio da “Frigidaire” ( - painel este que mais tarde foi substituído por outro, desta vez horizontal, dando as últimas notícias do dia - )... . aquele que brincou de catar “vaga-lumes” ou de colher “sempre-vivas” no mato que existia sob as torres da, hoje, “Avenida das Torres”... aquele que brincou de contar balões no nosso colorido céu “de brigadeiro” do mês de junho. . aquele que se perguntou, ao brincar dentro do pátio do “Museu Paranaense”, à “Avenida Batel”, o por quê de os meninos terem a mania de fazer pontaria, com seus estilingues, nas vidraças do seu prédio, já, então, abandonado... . aquela menina que, como eu, sonhava em frente às vitrinas de roupas das "Lojas Mazer" e que comprava o seu par de sapatos da temporada na "Baby Rock". . aquele que viveu os doces natais curitibanos de antigamente: que foi ver a decoração da “Móveis Cimo”, em frente ao “Hospital Cajurú”... e a da casa do “Hermes Macedo”, na “Avenida Batel”... que foi ver o presépio no porão de sua loja, a “HM”, e a decoração dela que passava, em um pórtico, por sobre a “Avenida Barão do Rio Branco”, a sua frente... Curitibano é quele que foi fazer seus pedidos ao Papai-Noel no subsolo das “Lojas Prosdócimo”... . aquele que foi passear pela “Avenida Kennedy”, recém inaugurada, e ficou atordoado com sua iluminação de luz de mercúrio, novidade à época, formando, para quem via de longe, um espetacular colar de diamantes luminosos... . aquele que conhecia o horário para subir e o horário para descer a “Estrada da Graciosa”... . aquele que sofreu com as obras do “Rio Belém”, na “Rua Mariano Torres”... e/ou com as obras de saneamento do então “Prefeito Omar Sabbag”, meu querido professor... . aquele que comeu pizza em pedaços, servida em papel de embrulho, com vitamina de frutas, em pé, no balcão da “Savoy”... e o inesquecível cachorro quente das “Lojas Americanas”... . aquele que saboreou o sorvete da “Formiga” e a coalhada da “Schaffer”... . aquele que viu, indignado, o incêndio do “Teatro Guaíra”... e que, anos mais tarde, vibrou com a contratação dos bailarinos para a formação de seu primeiro “Corpo de Baile”. . aquele que preferiu as escadas, a enfrentar o belíssimo elevador que levava ao “Inter Americano” (antes ainda de ser UCBEU), sediado, então, no Edifício “Moreira Garcez”... e que sempre teve um olhar de respeito e admiração pela "Mme. Garfunkel", sempre tão atuante... . aquele que viu a cidade cobrir-se de branco no inverno de 1975... . aquele que pediu “mini-pastelzinho” no “Bar Pasquale”, do “Passeio Público”, em um sábado na hora do almoço (necessariamente), no final da década de 70, início da de 80... e “mineiro de botas” no “Bar Palácio”, no tempo em que mulher só entrava acompanhada... .. aquele que freqüentou o “Restaurante Iguaçú”, a “Confeitaria das Famílias”, o “Ti-pi-ti”, a “Ilha”, a “Jackie-O”, a “Maria Pia”, o “Gui Sopas”, o “Bebedouro”, a boatinha do “Sírio”... as saídas do “Colégio Sion”... . aquele que foi a um “Baile do Horror” da “Sociedade Thalia”, aos inesquecíveis bailes do “Jockey Club” ou a uma das duas únicas inolvidáveis “festas de arromba” do “Hotel Iguaçú Campestre” (hoje “Hospital Vita”)... . aquele que, no tempo da latinidade, foi ver o “Tarancón” se apresentar no “Teatro Paiol” e que não podia perder sequer uma única “sessão da meia-noite” do “Cine Astor”... . aquele que ao chegar ao topo do “Pico do Marumby” disse: “Nunca mais!”, sem entender como, breve, se viu lá em cima novamente... aquele que tomou banho “de bica” na “Praia das Encantadas” e foi comprar pão caseiro em “Brasília”, na “Ilha do Mehl”... . aquele que se lembra das gincanas do “Curitibano” e das turmas da “Saldanha” e da “Praça Espanha”... . aquele que olha um prédio alto em meio a outros muito mais baixos e sabe que aquele prédio é, ainda, do tempo do “Plano Agache”. . aquele que sabe o que representou a administração do “Prefeito Ivo Arzua” para a cidade e que sabe, ainda, quem é ”Jorge Wilheim”... . aquele que viu, atônito, a Rua XV de Novembro, da noite para o dia, ser fechada aos automóveis e transformada em rua para pedestres... . aquele que sabe que, em Curitiba, houve um tempo em que não se permitia a construção de “shoppings centers”, pois a “Rua das Flores” deveria ser considerada o seu “shopping a céu aberto”... e que depois acompanhou, da janela de seu quarto, a construção do “Shopping Müller”, tijolo por tijolo... . aquele que se espantou com coberturas roxas de acrílico do “Abrão Assad” e fica, ainda hoje, admirado com o desenho de suas floreiras, de suas luminárias... de seu equipamento urbano... . aquele que se lembra do "Parque Bariguí" do tempo em que era puro lodaçal... e que pegou ônibus interestadual no, hoje, "Terminal Guadalupe"... . aquele que se lembra das encantadoras pérgulas da “Travessa Oliveira Belo” e do gigantesco tabuleiro de xadrez da “Praça Generoso Marques”... . aquele que se lembra das obras na “Avenida Sete de Setembro” para a definição dos primeiros eixos estruturais da cidade... e que viu, estupefato, o primeiro ônibus expresso (o vermelhão, que não era ainda nem articulado, quem dirá “bi”) passar em frente a sua casa... Curitibano de verdade é aquele que viu, positivamente, sua cidade ser tomada por pessoas vindas de todos os cantos do estado e do país e até mesmo de muitos cantos do mundo, recebendo-as de braços abertos, apesar dos preconceitos que sempre sofreu por sua maneira de ser... fria, distante e reservada, segundo muitos... É a nossa herança européia... Do meu ponto de vista, o curitibano de verdade, um incompreendido, nada mais é do que equilibrado, discreto, civilizado! Um cara sério. Talvez, eventualmente, tímido, mas não por conceito, antipático!!!

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