ALIENADOS MENTAIS DA CURITIBA DE ANTES "Os ”loucos” do século 19 que perambulavam pelas ruas de Curitiba e se misturavam à paisagem urbana chegavam a parar atrás das grades se tivessem surtos psicóticos. Encarcerados com bandidos e desordeiros, muitas vezes eles saíam da Cadeia Civil da cidade, na Praça Tiradentes, e iam dias depois para a Santa Casa de Misericórdia. Tratados também como “alienados mentais” pelas autoridades da época, no hospital eles ficavam internados em seis quartos especiais de contenção, sem tratamento adequado, e novamente “soltos” para as ruas da capital do Paraná. Muitos deles eram alvos de chacotas e sobreviviam de doações. Alguns viam seus nomes ou apelidos publicados em jornais da época por provocarem algum tipo de perturbação na ordem social, como foi o caso de uma senhora chamada de “Maria Balão”, que vivia nas ruas. Apenas quase quatro décadas depois de o Paraná emancipar-se de São Paulo e virar um território autônomo, surgiu a preocupação em montar uma estrutura específica para tratar os doentes mentais. Até então não se pensava em nada a respeito. Em 1890 começou a surgir a ideia de um hospício em Curitiba e quem encabeçou a discussão foi o provedor da Santa Casa, Dom Alberto Gonçalves”. A ideia defendida por Gonçalves era de que um hospital, denominado na época também de “asilo de alienados”, poderia curar os pacientes apenas se fosse um ambiente em que as regras sociais tivessem que ser estritamente respeitadas pelos pacientes. O modelo adotado na capital paranaense era semelhante ao proposto por Philipe Pinel em 1793, na França, propondo uma nova lógica para a tutela: o tratamento moral e educativo. Assim como Pinel, o hospício de Curitiba apostava que a imposição da ordem e de regras socais seria o caminho para o tratamento da doença mental e o isolamento era necessário para a recuperação e socialização. Após debates com o poder público e fazer campanhas por doação e loterias para angarias fundos, Gonçalves conseguiu ver em 1896 o início da construção do Hospício Nossa Senhora da Luz, a primeira instituição psiquiátrica do estado. Inaugurado em 1903, o hospício funcionou no local até 1907, quando deu espaço ao Presídio do Ahú. Nesse ano, o Nossa Senhora da Luz mudou-se para a atual sede na Avenida Marechal Floriano Peixoto. “Foi algo muito marcante para a história da cidade, que até então não tinha espaço para os doentes mentais”. A partir daí a loucura começou a ser tratada como uma “doença especial”, que merece tratamento distinto e específico. O Hospício Nossa Senhora da Luz foi idealizado para possuir quatro alas destinadas a internar pacientes distintos. A ideia era implantar no Hospício Nossa Senhora da Luz o modelo hospitalar francês, com uma ala era para os que tinham mania, demência, idiotia e melancolia. Mas na prática nunca conseguiram instaurar essa racionalidade dentro do hospital. Nos primeiros anos de funcionamento do hospital os médicos tinham pouco poder na instituição Nossa Senhora da Luz – que passou a ser denominado de hospital psiquiátrico apenas em 1940. Além disso, mesmo com o espaço, os doentes mentais continuavam sendo levados, em algumas situações, para a prisão. Na fase pioneira da instituição, os médicos lutavam para que eles tivessem o direito de definir o que seria melhor para os pacientes. O tempo de internação dos pacientes variava. Alguns ficavam internados por tempo quase indeterminado e outros não. Naquele começo, o hospício era visto como uma espécie de “salvação” para os doentes mentais." (Texto adaptado da Gazeta do Povo / Fotos: Arquivo Gazeta do Povo) Paulo Grani







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HISTORIANDO AS RUÍNAS DE SÃO FRANCISCO Para compreender a história das Ruínas de São Francisco é preciso voltar no tempo. O ano era o de 1798, quando o bispo de São Paulo, Dom Mateus de Abreu Pereira, em passagem por Curitiba, manifestou preocupação com relação à situação das três igrejas então existentes na cidade, que estavam em mau estado de conservação. Durante sua visita a Curitiba, o bispo verificou a urgência de novos santuários, já que nesse período só existiam três igrejas: a Matriz de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, atual Catedral; a Igreja Nossa Senhora do Terço, hoje conhecida como a Igreja da Ordem; e a Igreja do Rosário. Ao longo da sua estadia na região, o bispo ficou hospedado na fazenda do coronel Manoel Guimarães. No decurso das conversas, o coronel expôs ao bispo o seu desejo de construir uma igreja em nome da sua devoção a São Francisco de Paula. Com a autorização de Dom Mateus Pereira, o coronel solicitou a câmara de Curitiba um terreno para a construção da capela devotada ao santo. Manoel Gonçalves Guimarães foi um rico coronel da região da Lapa. Também mantinha posses e residência na cidade de Curitiba, isso facilitou o projeto de construção da igreja. Para alguns fiéis católicos, a nova igreja seria uma afronta a Nossa Senhora da Luz, para outros, uma questão apenas política. No entanto, sabia-se que não seria erguida uma igreja simples, seria elevado um templo tão grandioso quanto a fortuna do Coronel Manoel Guimarães. Conhecendo-se o temperamento arrojado de Manoel Guimarães, ficava claro que não iria construir simplesmente mais um santuário. Seria, além da realização de um sonho ou do cumprimento, talvez, de uma promessa, a representação concreta de seu poder e influência. Então, criou-se a Confraria de São Francisco de Paula para dar início ao projeto. arrecadaram-se doações para a compra de materiais de construção, além de objetos religiosos. Em 1809, apenas a capela-mor e a sacristia ficaram prontas, mesmo inacabada o bispo Dom Mateus de Abreu Pereira autorizou a benção da igreja para que fossem realizadas suas atividades religiosas. Ainda para a inauguração da capela, foi colocado sobre o altar a imagem de São Francisco de Paula. O Santo só saía da igreja para a procissões dos fieis em tempos de seca. A imagem de São Francisco de Paula foi esculpida em madeira, entretanto sua origem e autor são desconhecidos. O falecimento do Coronel Manoel Guimarães fez com que as obras ficassem paradas, mesmo com a confraria ainda existindo. A reforma da Igreja da Matriz também contribuiu para a paralização da construção, pois o reboco estava se desvencilhando do teto e havia risco de desabamento. Por esse motivo, em 1860, a construção da igreja São Francisco de Paula foi abandonada para que fosse concluída a torre da Igreja da Matriz. Portanto, “As pedras que finalizariam as obras foram utilizadas na conclusão da torre da antiga matriz” (FENIANOS, 1998). Depois de alguns reparos na Igreja Matriz os problemas estruturais persistiram. Com mudança de vila para a cidade, Curitiba precisava de uma igreja a altura da sua nova categoria, então começaram a construção da nova catedral. Concomitante a isso, a igreja da ordem também carecia de reformas. A restauração da Igreja da Ordem e a finalização da catedral impossibilitaram a conclusão da Igreja São Francisco de Paula. Segundo Baptista, mesmo inacabada a igreja foi frequentada durante todo o século 19. Em 1860, houve alteração na fachada da igreja. As paredes ainda de taipas foram substituídas por tijolos. Décadas mais tarde, alguns melhoramentos foram realizados pelo padre Antônio Vicente da Cruz, cuidador da capela. Mesmo com pequenas reformas o templo foi entregue quase em ruínas para Irmandade da Misericórdia, que se tornou responsável pela igreja. No ano de 1885, a Câmara deliberou a retirada da Igreja São Francisco de Paula já em ruínas, mas nada foi feito. Posteriormente, a capela foi confiada aos padres franciscanos Xisto Mawes e Redempto Kullman. Os freis permaneceram no Alto do São Francisco até 1901, depois mudaram-se para a Praça da atualmente Praça Rui Barbosa, nesse local foi fundada a Igreja Bom Jesus dos Perdões. Devido ao estado físico precário da Igreja São Francisco de Paula foi decidido pela sua demolição. Então, em 1914, houve um acordo entre prefeitura e a mitra diocesana para permuta de um terreno situado na esquina das ruas Saldanha Marinho e Desembargador Mota. Nesse local foi construída a nova Igreja São Francisco de Paula. Os paroquianos ainda doaram dois lotes adjacentes a área permutada para a construção da casa paroquial. Para a celebração das missas foi construída uma igreja provisória de madeira. Apesar disso, as atividades religiosas não foram cessadas. Até que em 1936, foi criada a Paróquia São Francisco de Paula, abrangendo os bairros das Mercês e Bigorrilho. Já em 1949, o pároco Boleslau Farlaz deu os primeiros passos para a construção da nova matriz. As obras eram executadas com a ajuda financeira de fiéis, festas e quermesses. (Fotos: internet) Paulo Grani